sexta-feira, novembro 10, 2006

"...ausência total de uma palavra de apreço e incentivo para com os professores."

"O que impressiona, nas intervenções mediáticas dos responsáveis do Ministério da Educação (ME), é a ausência total de uma palavra de apreço e incentivo para com os professores." (José Gil, 2006.11.10, Ensaio, in Visão, pág. 170).
Na realidade, começam a avolumar-se as opiniões (exteriores à classe docente) de que o discurso do ME consubstancia uma enorme injustiça para com os professores; mas não só injustiça: será que é possível construir uma escola melhor, produtora de sucesso, com professores deprimidos e desmotivados?! Não me parece!
Isto porque (como já referi em posts anteriores), ainda que se reconheça a coragem de se ter mexido no Estatuto e concorde (como eu), em maior ou menor grau, com algumas das propostas de alteração agora em debate, o discurso do ME não motiva nenhum professor para o exercício da profissão!
E, como diz José Gil, "ele [o professor] não investe uma ou duas 'competências', investe na aula [e na escola, digo eu] a sua existência inteira". Será isto possível com este clima de escola?!
É, hoje, fácil de reconhecer que, de um conjunto de classes profissionais inevitavelmente "tocadas" no conjunto de privilégios a que vinham tendo direito, em virtude da política (corajosa, diga-se) de recuperação económica encetada pelo Governo Socialista, a classe docente é a que tem sido, injusta e inapropriadamente, mais desprestigiada!
Ninguém pensaria que seria possível mexer com profundidade nestas coisas num clima totalmente pacífico e, certamente, por isso, outros não o fizeram, anteriormente, como deviam! Mas, não havia necessidade de esmagar! Até porque, como em todas as classes profissionais, há a excelência e a mediocridade.


E ainda as aulas de substituição...

A outro órgão de comunicação social (Correio da Manhã de 2006.11.08), a Senhora Ministra terá referido que "os [professores] mais experientes, os mais competentes e os que mais ganham, têm as maiores reduções da componente lectiva e até ao ano passado, não estando regulamentada a componente não lectiva e não havendo condições na escola, eram os professores que davam menos ao sistema".
Na realidade, este é um dos aspectos que merece e deve ser corrigido.
Não me parece é que essa redução da componente lectiva deva ser ocupada com aulas de substituição. Por alguma razão se reconhece a necessidade de "retirar" esses docentes da sala de aula.
Essas horas, previstas actualmente no art. 79º do actual Estatuto da Carreira Docente, deverão, sim, ser ocupadas em cargos e outras actividades fora da sala de aula (apoio pedagógico individual ou a pequenos grupos, por ex.) compatíveis com a experiência e competência adquirida durante os já longos anos de serviço, consubstanciando, assim, uma melhor rentabilização dos recursos humanos.
A não ser assim, como acontece agora, quanto mais antigo é o docente mais ocupado estará em aulas de substituição! De referir que, ainda que retirando as horas do art. 79º, nas 35 horas semanais continuam a haver horas não lectivas, susceptíveis de serem utilizadas para aulas de substituição.

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